A dramática vida de Corey Feldman, estrela de 'Os Goonies'
Tornou-se uma das grandes estrelas de Hollywood na década de 1980, mas sua carreira foi engolida pelos vícios e pela indiferença da indústria cinematográfica. Corey Feldman dirigia-se diretamente ao abismo, mas soube reerguer-se. Entenda!
Corey Feldman nasceu em Chatsworth, Califórnia, em 1971, numa família judia. Ele foi o segundo de cinco filhos do casamento de Sheila Goldstein, ex-coelhinha da Playboy, e Bob Feldman, músico da década de 1960.
Sua família foi a grande responsável de introduzi-lo no mundo artístico. Seu pai criou uma agência mirim destinada a guiar a carreira de Corey e de sua irmã, Mindy, além de muitas outras crianças. O pequeno ator obteve sucesso rapidamente e passou a sustentar a casa.
A primeira aparição de Corey Feldman na televisão foi num comercial do McDonald's, quando ele tinha apenas 3 anos. A partir daí, participou de programas como 'Mork and Mindy', 'Eight is Enough', 'One day at time' e o mítico 'Cheers'.
(Foto do comercial da câmera Kodak Colorbust de 1980)
Desde muito jovem, a mãe de Corey era extremamente exigente. Mudava a cor do cabelo do filho, dava-lhe comprimidos para emagrecer e chegava a bater nele, caso não conseguisse os papéis para os quais candidatava-se. O próprio ator disse, mais tarde, que as filmagens viraram seu refúgio, já que sua mãe parava de bater nele para que não aparecessem os hematomas.
A estreia de Feldman no cinema veio quando ele tinha apenas oito anos, com 'Um Século em 43 Minutos', em 1979. Dois anos depois, ele participou de um clássico da Disney, 'O Cão e a Raposa' ('Papuça e Dentuça', em Portugal). Nesta animação, ele emprestou a voz ao jovem Cooper.
Os grandes sucessos da filmografia do ator vieram na década de 1980. Sua atuação entrou para a história com os filmes 'Gremlins' (1984), 'Os Goonies' (1985), 'Conta Comigo' (1986), 'Hidden Youth' (1987) e 'Sem Licença para Dirigir' ('Aselhas ao Volante', em Portugal, 1988).
Este filme marcou sua vida pessoal e profissional. O diretor, Rob Reiner, contou que o escolheu porque nenhum outro menino tinha um olhar capaz de transmitir tanta raiva e tanta dor. Com apenas 14 anos, Corey fez o papel de Teddy, cujo pai, um veterano de guerra cruel e alcoólatra, queimou sua orelha.
Durante as filmagens de 'Conta Comigo', o diretor contou ainda que Corey Feldman experimentou droga e álcool por primeira vez. Aos poucos, o ator deixou-se levar pela vida noturna de Hollywood.
Nessa época, a má influência de seu assistente, Jon Grissom, o levou ao consumo de substâncias mais fortes. E não foi só isso, Jon também deu-lhe pílulas soníferas para aproveitar-se dele. O próprio Corey Feldman garantiu, anos depois, numa entrevista ao 'Los Angeles Times', que teve medo de dizer não, então fechou os olhos e fingiu estar dormindo.
Com apenas 15 anos, Corey Feldman emancipou-se. Depois de tantos anos de abuso físico e psicológico, o jovem ator preferiu distanciar-se da sua família. Ele então descobriu que o dinheiro recebido por seus trabalhos como ator tinha sido embolsado pelos seus pais. De tudo o que havia ganhado, restou a ele apenas 40 mil euros.
Sentindo-se solitário e desesperançoso, o jovem pensou em acabar com a própria vida. Ele chegou a dormir com um revólver debaixo do travesseiro, conforme declarou, anos mais tarde, à revista People: "Eu costumava apontá-lo para a minha cabeça e pensar, Deus, por que sou tão feio? Por que sou tão gordo? Eu me odiava e queria desaparecer".
Corey Feldman tornou-se o melhor amigo de Corey Haim, desde que se conheceram em 'Hidden Boys' (1987). Inseparáveis, eles ficaram conhecidos como "os dois Coreys". Contracenaram juntos em nada menos que 12 filmes, incluindo a bem-sucedida comédia 'Sem Licença para Dirigir' ('Aselhas ao Volante', em Portugal).
A confiança entre eles cresceu e foi quando Corey Haim confessou a Feldman que, durante as filmagens do filme 'Lucas', Charlie Sheen teria abusado dele. A experiência foi traumática e o marcou para toda a vida. Anos depois, Feldman fala sobre isso no documentário 'Minha Verdade: a Violação dos Dois Coreys' ('My Truth: The Rape of 2 Coreys', em inglês)
Tanto em uma entrevista à ABC, em 2011, quanto no seu livro de memórias, de 2013, Corey Feldman falou do "abuso infantil desenfreado em Hollywood". Ele contou sobre o suposto abuso de Charlie Sheen e afirmou que Corey Haim também foi abusado por Dominick Brascia, antigo amigo de ambos.
A relação entre "os dois Coreys" não se limitou ao campo profissional. A amizade intensa teve seus altos e baixos, e desfrutar da vida noturna era prioridade para eles. Os dois atores costumavam participar de festas na mansão Playboy, a convite de Hugh Hefner.
Antes de completar 20 anos, Feldman foi preso três vezes por posse de substâncias ilegais. Ele estava perto de um colapso e chegou a vender CDs na rua para conseguir dinheiro, com apenas 22 anos.
Tentou fazer tratamentos para deixar o vício em mais de uma ocasião. Durante um deles, injetou-se heroína, na companhia de Dave Navarro - guitarrista das bandas Red Hot Chili Peppers e Jane's Addiction - e Perry Farrell, cantor do Jane's Addiction.
Feldman disse em sua autobiografia que, naqueles anos, passou a consumir substâncias nocivas à saúde: "Eu me senti realmente devastado. Precisava voltar à normalidade, então liguei para Michael Jackson". O ator travou uma grande amizade com o cantor e foi convidado a participar do videoclipe de 'Liberian Girl'. "Estar com Michael devolveu minha inocência. Com ele, eu me sentia com 10 anos novamente", disse Feldman, e garantiu que nunca foi abusado por Jackson.
Corey Feldman chegou ao fundo do poço quando, em apenas um ano, gastou quase um milhão de euros em drogas. Então, aumentou os esforços para sair deste círculo vicioso. Em 1995, com 24 anos, conseguiu, finalmente, desintoxicar-se. "Estou limpo desde então", disse o ator.
Ao longo dos anos 1990, recuperado e com vontade de continuar sua carreira, o ator participou de 'Minha Madrasta é um Terror' (1993), 'Máquina Quase Mortífera' ('Arma Infrutífera 1', em Portugal, 1993), 'Rock 'n' Roll High School Forever', 'Last Resort', 'Maverick' (1994) e 'Os Garotos Perdidos' (Os Rapazes da Noite', em Portugal, 1996), entre outros.
Também não faltaram-lhe trabalhos nos anos 2000. Mas Corey não chegou a brilhar tanto como nos anos 1980. Apesar disso, sua filmografia continuou a aumentar a cada ano. Ele atuou em filmes como 'Mayor of the Sunset Strip' (2002), 'Pauly Shore is Dead' e 'Dickie Roberts: Ex-child prodigy' (2003), 'Terror Inside' (2008), a segunda e terceira partes de 'Hidden Youth' (2008 e 2010); 'Zombex' (2013), 'The M Word' (2014) e seu último trabalho de 2021, o filme de terror, '13 Fanboy'.
Em 2004, Corey Feldman recebeu o prêmio de Ex-Ator Infantil e, em 2007, ganhou o Crystal Reel de Melhor Ator por seu trabalho em 'Terror Inside' (2008).
Em 2008, os dois amigos encontraram-se novamente para lançar o reality show 'The Two Coreys' ('Os Dois Coreys', em português), no qual Feldman e Haim revelam ter sofrido abusos quando eram jovens.
Mas os conflitos nunca deixaram sua vida. Após a morte de Haim, a mãe dele, Judy Haim, não parou de criticar Corey Feldman por explorar a memória de seu filho com fins lucrativos. Ela nega que Charlie Sheen tenha abusado dele, inclusive.
O ator também foi acusado de abusos. Ao todo, oito mulheres, conhecidas como "ex-Corey Feldman Angels", processaram Feldman por conduta agressiva. Em janeiro de 2018, veio à tona que Feldman estava sendo investigado pela polícia, mas ele foi inocentado de todas as acusações, no mês seguinte.
No quesito amor, o ator teve breves affairs com Drew Barrymore, Paris Hilton e Vanessa Marcil. Chegou a casar-se com Susie Sprague, mas separou-se pouco tempo depois. Finalmente, em 2016, casou-se com Anne Mitchell, com quem vive até hoje.
Com uma vida tranquila e longe de vícios, o ator define-se como vegetariano, ativista e defensor dos direitos dos animais e do meio ambiente. Ele é o porta-voz de diversas organizações ambientais como PETA, Farm Sanctuary, The Humane Society, Moveos e Greenpeace.