A história de superação de Lázaro Ramos: doença, perda familiar e artes
Entre todas as estrelas que iluminam o cenário artístico brasileiro, Lázaro Ramos brilha uma luz especial, alimentado por sua incrível trajetória de superação e dedicação.
Mais do que um talentoso ator e cineasta, Lázaro é um símbolo de inspiração para muitos, graças à sua resiliência e paixão pela arte. Porém, antes de alcançar sucesso profissional, passou por dificuldades em sua infância.
Luís Lázaro Sacramento de Araújo Ramos nasceu em Salvador, no dia 1 de novembro de 1978. Como seus pais trabalhavam muito, Lázaro foi criado na casa de uma familiar sua, a primeira que saiu do interior da Bahia.
Em entrevista recente ao podcast 'Quem Pode, Pod', Lázarou contou: “Meus pais trabalhavam muito. Minha mãe era empregada doméstica e trabalhava além do permitido. Às vezes eu via minha mãe só duas vezes por mês e, às vezes, eu ia pro trabalho dela com ela só para vê-la. Eu ficava trancado naquele quartinho dos fundos, de tamanho inadequado, só esperando ela aparecer para abrir a porta e me dar um sorriso. (....) E meu pai trabalhava no polo petroquímico em uns horários muito doidos, de meia noite ao meio dia...”
Na foto, Lázaro Ramos com sua mãe, na Ilha do Paty.
Assim, Lázaro foi criado na casa de sua tia Dindinha: "Todas as crianças da família se mudavam para lá para estudar na capital. Era uma casa com três quartos e, na época que eu morava lá, havia mais seis primos. Era uma casa cheia de gente, cheia de energia, por lá passaram 19 crianças... E, nessa casa com quintal, foi talvez onde tive as melhores lembranças da minha vida".
Porém, nem todas suas lembranças são felizes. Ainda em entrevista ao 'Quem Pode, Pod', Lázaro Ramos revelou que passou por depressão quando era criança, já que estava sempre doente: “Eu achava que eu ia morrer. (…) Eu era uma criança muito magrinha e, depois de vários exames, descobrimos que eu era intolerante à caseína, uma proteína do leite. Eu comia coisas que me faziam mal e estava sempre sem energia. Até que comecei a ter uma alimentação mais adequada e comecei a fazer teatro. Aí, por fim, me libertei.”
E assim, aos 10 anos, Lázaro começou a fazer aulas de teatro na escola em que estudava. Com o teatro, aprendeu a expressar melhor suas emoções, principalmente gestos de carinho e afeto.
Mas ainda assim, nem tudo eram flores em sua adolescência: "Eu vivi em um ambiente muito racista. Um ambiente de escola particular, onde eu era o único preto, o cara que, no baile de 15 anos, não ia ser cadete. Até era convidado, mas era o amigo sorridente, o amigo coadjuvante”, lembrou o ator à Giovana Ewbank e Fernanda Paes.
Porém, este ambiente não foi um impedimento para que Lázaro continuasse apostando por sua paixão pela arte. Aos 15 anos, entrou para o Bando de Teatro Olodum, formado por atores negros.
Ao mesmo tempo, trabalhava como técnico de laboratório de análises clínicas, para ajudar com as contas em casa, já que sua mãe estava doente.
E infelizmente, aos 19 anos, sua mãe faleceu. Durante o podcast, Lázaro Ramos emocionou-se, ao lembrar desta etapa em sua vida: "É talvez a maior falta que eu tenho. Pouco antes de falecer, ela decidiu voltar à escola, e na escola ela fazia teatro e me levava para ver. Aí, pouco tempo depois, ela partiu… E eu parei de fazer teatro por um tempo, porque tudo o que eu fazia era para ela ver. E no fim ela não viu nada…"
Porém, essa pausa não durou muito e, rapidamente, Lázaro continuou perseguindo seu sonho de ser ator. Até que, aos poucos, as coisas começaram a dar certo.
E assim, das obras de teatro com o Bando de Teatro Olodum, Lázaro Ramos começou a ter pequenos papéis como no filme 'Cinderela Baiana' (1998), protagonizado por Carla Perez, e 'Sabor da Paixão' (2000), filme venezuelano onde contracenou com Murilo Benício e Penélope Cruz.
Porém, sua grande chance ao reconhecimento nacional veio com 'Madame Satã' (2002), que além de ter se convertido em um filme de culto brasileiro, foi o primeiro papel de Lázaro Ramos como protagonista.
Neste mesmo ano, Lázaro teve também sua estreia na Rede Globo, com a minissérie 'Pastores da Noite', baseada na obra de Jorge Amado.
E a partir de então, Lázaro Ramos não deixou de trabalhar. O ano de 2003 foi muito importante para o ator, que, além de estrelar 'O Homem Que Copiava' (seu segundo filme como protagonista), também participou da série 'S e x o Frágil', onde todos os protagonistas interpretavam papéis masculinos e femininos. O elenco contou ainda com Lúcio Mauro Filho, Bruno Garcia, Wagner Moura e Zéu Britto.
Na foto, nos bastidores da Rede Globo, ao lado de Wagner Moura.
Em 2006, Lázaro atuou em sua primeira novela na Rede Globo: 'Cobras e Lagartos'. Já seu primeiro papel em horário nobre foi com 'Insensato Coração' (2011). Também não podemos deixar de destacar sua atuação em outras novelas como 'Lado a Lado' (2012), 'Geração Brasil' (2014) e 'Amor de Mãe' (2021).
Porém, este grande ator polivalente nunca deixou o cinema de lado, tendo atuado em grandes títulos da história do cinema contemporâneo brasileiro como: 'Nina' (2004), 'Cafundó' (2005), 'Ó Pai, Ó' (2007), 'O Grande Kilapy' (2012), 'Mundo Cão' (2016), 'O Beijo no Asfalto' (2018), entre muitos outros.
Lázaro Ramos também é um grande escritor. Começou aos 21 anos com literatura infantil, tendo escrito já oito livros para crianças, todos com um pensamento crítico de empoderamento racial.
E, em 2017, Lázaro publicou seu primeiro livro para adultos: 'Na Minha Pele'. Praticamente autobiográfico, traz reflexões e memórias pessoais, convidando o leitor a tomar consciência sobre a questão de raça no Brasil.
Além disso, de volta ao mundo cinematográfico, em 2020, Lázaro Ramos também teve seu primeiro trabalho como diretor de cinema ao dirigir o filme 'Medida Provisória'.
Além de um grande ator, ativista e escritor, Lázaro Ramos é um grande pai e marido. Desde 2007, está casado com a atriz Taís Araujo, com quem tem dois filhos: João Vicente (2011) e Maria Antônia (2015).
Em 2023, estreou 'Ó Paí Ó 2', que foi um sucesso de bilheteria no Nordeste do Brasil. Mais uma prova de que Lázaro Ramos é, definitivamente, um multitalento nato, que superou obstáculos e, hoje, é uma das personalidades mais necessárias do Brasil.