A incrível história da Catedral de Notre-Dame, em Paris
Monumento icônico de Paris e símbolo da arte gótica, a Catedral de Notre-Dame é uma obra-prima arquitetônica que resistiu ao teste do tempo, por mais de oito séculos.
Com quase 12 milhões de visitantes por ano, Notre-Dame era um dos monumentos mais visitados do mundo, até que um terrível incêndio destruiu parte do seu edifício, em 2019.
Em meados do século XII, Paris era uma cidade em expansão. Tendo se tornado um importante centro econômico e político sob o domínio dos Capetianos, tinha uma população de 25 mil habitantes.
Segundo certos escritos e escavações arqueológicas, a Catedral de Saint-Étienne localizava-se na Île de la Cité, ao nível da atual praça de Notre-Dame. A catedral teria ficado em ruínas, no início do século XII, antes de ser totalmente destruída, para a construção do novo edifício.
Foto: Wikimedia Commons
Bispo de Paris entre 1160 e 1196, Maurice de Sully foi responsável pela construção da Notre-Dame de Paris. Próximo da família real francesa, este ambicioso homem do clero queria construir uma catedral de dimensões excepcionais, para acomodar o maior número possível de fiéis.
Maurice de Sully inspirou-se nas construções góticas da época, como a basílica de Saint-Denis (foto), onde estão os túmulos dos reis da França, uma construção com muita luz natural.
O nome do arquiteto que projetou a Notre-Dame permanece desconhecido, mas foi particularmente ousado, entragando a planta de uma catedral gigantesca. Sua construção durou mais de 180 anos e foi executada por diferentes gestores de projeto.
O coro de Notre-Dame foi o primeiro a ser construído. As abóbadas apoiam-se em arcos e contrafortes pontiagudos, visíveis do lado de fora, para limitar o risco de desabamento.
Em 1239, relíquias prestigiadas foram levadas para a catedral, como as 'Relíquias da Paixão', que ficavam em Jerusalém. Hoje, a Notre-Dame de Paris abriga verdadeiros tesouros, como a Coroa de Espinhos de Cristo, um fragmento de madeira da Cruz e um Prego.
A construção da nave começou em 1182, planejada em quatro tramos, e finalizada no século XIII. Suas paredes, lisas e finas, são uma das assinaturas de Notre-Dame, assim como o ritmo regular entre a verticalidade, com pilastras e colunas, e a horizontalidade das arcadas e capitéis.
Foto: Jianxiang Wu/Unsplash
Apelidada de “A Floresta”, a estrutura da Notre-Dame de Paris era composta por cerca de 1.200 carvalhos e assegurava a coesão do todo. Foi também um verdadeiro trunfo para a segurança do edifício, como vimos durante o incêndio de 2019.
Em 1218, na véspera da Assunção, ladrões invadiram a catedral e derrubaram uma vela. O coro de Notre-Dame teria sido totalmente incendiado, comprometendo sua estrutura. Em 1220, foi lançada uma nova campanha de trabalho, e o edifício foi todo refeito.
A torre sul e a torre norte foram erguidas, respectivamente, em 1240 e 1250. Com 69 metros de altura, eram as torres mais altas de Paris, até o surgimento da Torre Eiffel, em 1889.
Foto: Kirsten Drew/Unsplash
Construídas na Idade Média, as gárgulas têm a forma de animais fantásticos e assustadores e adornam as extremidades das calhas da Catedral de Notre-Dame. Sua função é proteger o monumento da chuva, mantendo a água longe das paredes da catedral.
Os vitrais de Notre-Dame de Paris são verdadeiras obras-primas. Alguns são originais, mas a maioria foi restaurada. A Rosa do Sul (foto), também chamada de Rosa Midi, foi construída por volta de 1250, e mede quase 13 metros de diâmetro.
A catedral parisiense possui três portais de entrada em sua fachada oeste, construídos entre 1200 e 1240. O portal do Juízo Final está no centro, o portal da Virgem, à esquerda, e o portal de Santa Ana, à direita.
Logo acima dos portais, é possível observar a galeria dos reis, uma faixa horizontal onde estão ilustrados vinte e oito figuras, correspondendo às 28 gerações dos reis da Judeia. Injustamente associadas ao Reino da França, foram mutiladas durante a Revolução Francesa.
Após este período de conflito, Notre-Dame encontrava-se num estado lastimável. A Galeria dos Reis foi vandalizada, a água penetrou nas abóbadas, e sua torre medieval, de 78 metros de altura, foi desmantelada, entre 1786 e 1792, por ser demasiado perigosa para o edifício.
Indignado com os danos à catedral, Victor Hugo publicou 'Notre-Dame de Paris', em 1831, romance que influenciou fortemente a história do monumento. A popularidade do escritor era tanta, que mobilizou a população francesa para salvar a catedral.
Em 1843, os arquitetos Jean-Baptiste Lassus e Eugène Viollet-le-Duc, especializados na restauração de monumentos medievais, inspecionaram todas as suas falhas e propuseram um projeto de restauração.
Viollet-le-Duc tinha apenas 29 anos quando foi chamado para restaurar a catedral. Este talentoso arquiteto assumiu sozinho o projeto de restauração, quando Jean-Baptiste Lassus morreu repentinamente, em 1853.
Ao contrário das gárgulas, as quimeras foram imaginadas no século XIX e são obra de Viollet-le-Duc. Estas criaturas de aparência diabólica estão localizadas no topo do edifício e não têm função estrutural, apenas decorativa.
A reconstrução do pináculo foi inicialmente projetada à imagem da original, mas Viollet-le-Duc quis criar uma torre desproporcional. Feita de carvalho revestido de chumbo, tinha 93 metros de altura e pesava 750 toneladas. Uma façanha arquitetônica que valorizou a catedral, desde 15 de agosto de 1859, data de sua inauguração. Quando desabou em chamas, em abril de 2019, o coração dos parisienses ficou seriamente abalado.
No final da tarde, enquanto a catedral passava por obras de restauração, houve um incêndio na estrutura de madeira do coro da catedral. As chamas espalharam-se rapidamente e demorou cerca de 15 horas para serem completamente extintas. O incêndio destruiu toda a estrutura, o pináculo e as coberturas da nave e do transepto.
Até 2023, a causa do incêndio ainda permanecia desconhecida. Foram levantadas duas hipóteses pelos investigadores: um cigarro mal apagado ou um curto-circuito.
Graças ao financiamento privado e público, o trabalho de restauração começou após o incêndio, embora tenha sido prejudicado pela crise sanitária. A fase de limpeza terminou em setembro de 2021, e as obras começaram dois meses depois.
Artesãos e trabalhadores de toda a França foram mobilizados para reparar os telhados, restaurar a estrutura, renovar o órgão e reconstruir a famosa torre, de forma idêntica.
Segundo a Câmara Municipal de Paris, a torre subirá novamente ao céu parisiense no final de 2023. Quanto ao fim da obra, está previsto para dezembro de 2024.
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