A verdadeira Anna Delvey, golpista que inspirou série na Netflix
Em 2013, uma jovem com um estranho sotaque alemão começou a aparecer entre as elites endinheiradas de Nova York. Ela alegava ser uma herdeira europeia muito rica.
Anna Delvey havia morado em Paris e queria fazer de Nova York sua nova casa. Nas redes sociais, ela acumulava cada vez mais seguidores e exibia fotos onde aparecia com roupas de grife e em festas luxuosas.
(Imagem: Instagram, @theannadelvey)
Tudo mudou em 2017, quando ela foi pega pela polícia e condenada por aplicar golpes financeiros. Seu sobrenome não era Delvey, ela nasceu na Rússia e nunca foi herdeira de nenhum milionário.
O verdadeiro nome da jovem russa é Anna Sorokin. Ela conseguiu convencer gente poderosa de Nova York a pagar seus gastos luxuosos ou investir em sua ideia de um negócio lucrativo.
No início de 2022, a Netflix lançou 'Inventando Anna' ('Inventing Anna'), uma minissérie baseada na história de Delvey. A protagonista foi interpretada pela estrela de 'Ozark', Julia Garner. Produzida por Shonda Rhimes ('Grey's Anatomy'), tem provocado curiosidade sobre a vida da golpista real.
(Imagem: Julia Garner em 'Inventing Anna', Netflix)
Além dos intérpretes das pessoas reais que tiveram contato com Anna, a série centra no impacto das redes sociais, forma que ajudou a golpista a criar a imagem de milionária.
(Imagem: Julia Garner em 'Inventing Anna', Netflix)
Durante três anos, Delvey fez de tudo para aparentar ser rica. Hospedou-se em hotéis caros, fez refeições de mais de mil dólares, deu gorjetas com notas de US$ 100, vestiu roupas caríssimas e viajou pelo mundo. Tudo pago pelas vítimas do seu golpe. Meios como New York Times, Vice, Insider e New York Magazine reportaram, com detalhes, o caso de Anna Sorokin.
(Imagem: Julia Garner em 'Inventing Anna', Netflix)
Atualmente, sua conta no Instagram (@theannadelvey) ainda está ativa, embora tenha poucos comentários. Percebe-se claramente que a personagem retratada ali é, realmente, misteriosa.
Na sua conta do Instagram, entre 2014 e 2017, ela postou selfies em Veneza, Paris, Marrakesh e Nova York. Era uma assídua frequentadora de desfiles de moda e festas de luxo.
Segundo a revista L'Officiel, Sorokin adotava sempre a mesma tática: apresentava-se como herdeira alemã de uma fortuna desconhecida e deixava a conta para seus conhecidos pagarem. Desta maneira, ela frequentou restaurantes sofisticados, festas e eventos de networking. Mas a promessa de retornar os devidos "empréstimos" nunca aconteceu.
Delvey conseguiu se tornar "um ícone da cena de Nova York", segundo a reportagem de L'Officiel. Ela era vista nas melhores festas e oferecia jantares com CEOs, celebridades e atletas.
Extremamente hábil, segundo a Women's Health, estima-se que ela conseguiu mais de 275 mil dólares. Para isso, ela declarava ter um fundo fiduciário na Alemanha, no valor de 60 milhões de dólares.
(Imagem: Julia Garner e James Cusati-Moyer em 'Inventing Anna', Netflix)
De acordo com a L'Officiel, sua história não gerou desconfiança, devido ao grande número de jovens com fundos fiduciários em Nova York . "Seu passado ambíguo, como herdeira, também a ajudou a fazer amigos de maneira rápida e fácil", diz a revista. Sua presença online, com amigos verdadeiramente ricos, legitimou a farsa e ela continuou roubando.
(Imagem: Instagram, @theannadelvey)
Segundo o Insider, Anna Delvey conseguiu um empréstimo bancário para começar um negócio e, com este dinheiro, pagou jantares e deu gorjetas generosas.
Ela também pagou hotéis luxuosos com cartões de crédito de amigos. As fotos tiradas nesses lugares fizeram com que as pessoas acreditassem que ela realmente poderia devolver o dinheiro emprestado.
(Imagem: Julia Garner e Katie Lowes em 'Inventing Anna', Netflix)
Anna morava em hotéis caros, onde conseguia ficar tempo suficiente, sem precisar apresentar um cartão de crédito válido. Depois de sua prisão, três hotéis fizeram boletim de ocorrência, cobrando as dezenas de milhares que ela devia.
A farsa durou de 2014 a 2017. Conforme relata o New York Times, "ela roubou um jato particular, bancos, hotéis e lojas, no valor de 200 mil dólares. Ela fez tudo isso enquanto tentava conseguir um empréstimo de US $ 25 milhões para criar um clube de artes exclusivo."
(Imagem: Julia Garner em 'Inventing Anna', Netflix)
Em 2017, uma amiga, cujo cartão de crédito foi usado por Anna para gastar 70 mil dólares, a denunciou. A golpista foi finalmente foi presa. Segundo o New York Times, ela foi acusada de "roubo, furto, tentativa de roubo e tentativa de furto, ao enganar vários hotéis e instituições financeiras".
Seu julgamento aconteceu em 2019. Anna Sorokin foi considerada culpada de 8 acusações e condenada de 4 a 12 anos de prisão. Ela também teve que pagar uma taxa de restituição para reembolsar as vítimas, segundo informou o Insider.
O caso de Anna gerou muito interesse da mídia. A Netflix ofereceu a ela 320 mil dólares para transformar sua história em uma série de drama, contou o Insider.
A série também volta no tempo e descreve Anna Sorokin como uma simples menina russa que se muda para a Alemanha com seus pais, após a queda da União Soviética. Ela sonha em se tornar uma celebridade, igual as que vê nas revistas de moda.
Anna é retratada como uma adolescente que acaba se envolvendo numa situação mais grave do que tinha planejado. Convenhamos, a série é bastante solidária com a golpista.
A série também aborda o fato real de Anna Sorokin haver ganhado novos seguidores e fãs durante o processo judicial, quando fotos de como ela ia vestida nas audiências foram postadas na conta do Instagram: @annadelveycourtlooks.
Como disse o repórter do tribunal do New York Times, Sorokin não se contentou com as roupas que a prisão forneceu. Ela procurou a ajuda de uma estilista pessoal, Anastasia Walker, para manter-se elegante durante o julgamento.
“Seus looks no tribunal foram um verdadeiro desfile”, diz o New York Times, “ela adquiriu novos seguidores no Instagram e reforçou sua imagem, mesmo depois de deixar a vida de farsante”.
Anna recusava-se a vestir a mesma roupa por dois dias seguidos. O repórter do tribunal do New York Times disse que testemunhou um verdadeiro "colapso", quando, durante os dias do julgamento, ela considerava que a roupa não estava de acordo com os seus padrões.
Enquanto estava na prisão, Anna Sorokin continuou a fazer publicações na sua conta do Instagram.
Depois de ficar 4 anos na prisão, ela foi libertada por bom comportamento, em fevereiro de 2021. No entanto, não ficou livre por muito tempo. Como estava com o visto vencido, o Departamento de Imigração a deteve e quer deportá-la para a Alemanha.
Dos 320 mil que a Netflix lhe pagou, ela gastou cerca de "223 mil em restituição e multas, incluindo 100 mil ao City National Bank e 24 mil em multas estaduais", estima o Insider. Ela também pagou cerca de 75 mil ao advogado, até agora.