Indicações e polêmicas: o que está por trás do filme 'Emilia Pérez'?
Treze indicações ao Oscar e quatro Globos de Ouro não foram suficientes para que o filme “Emilia Pérez” se tornasse realmente o favorito do público, principalmente no México. Da mesma forma, várias polêmicas foram geradas em torno deste filme, o que prova que ele está na boca de muitos, mas é apreciado por poucos. Quer saber por quê?
Uma das primeiras polêmicas, senão a primeira, foi protagonizada no início de dezembro de 2024 pelo ator mexicano Eugenio Derbez que fez a seguinte crítica no podcast 'Hablando de Cine con...': "A atuação de Selena Gomez é indefensável. Vi o filme com várias pessoas, toda vez que víamos uma cena nos virávamos para olhar um para o outro e dizíamos 'uau, o que é isso?'"
Gomez respondeu mais tarde, sem entrar em debates, aos comentários de Derbez: "Eu entendo de onde você vem. Sinto muito por ter feito o melhor que pude com o tempo que me foi dado. Isso não diminui o quanto de esforço e coração eu coloquei neste filme".
Derbez, então, reconheceu sua gafe, em uma publicação no TikTok: "Querida Selena, peço sinceras desculpas pelos meus comentários descuidados, eles são indefensáveis e vão contra tudo o que defendo. Como latinos, devemos sempre apoiar uns aos outros. Não há desculpas".
Manchetes como “'Emilia Pérez', o filme que ofendeu milhões de mexicanos” refletem os sentimentos que esse longa-metragem pode ter despertado na população do país.
Ele foca em Juan “Manitas” del Monte, um traficante de drogas mexicano que muda de gênero e assume uma nova identidade como Emilia Pérez - interpretada por Karla Sofía Gascón - que enfrenta desafios sociais e pessoais decorrentes de sua transformação.
De acordo com várias críticas relatadas pelo site Infobae, o filme mostra uma visão reducionista e estereotipada do México. Foi ressaltado que se trata de uma representação do tráfico de drogas e da comunidade t r a n s g ê n e r o no país, que carece de profundidade e autenticidade cultural, especialmente devido à ausência de talentos nacionais em papéis-chave, e que não reflete adequadamente o contexto local. Adriana Paz é a única atriz mexicana presente no filme francês.
Além disso, os comentários feitos pelo diretor do filme, Jacques Audiard, levantam o debate sobre a forma como o cinema internacional aborda levianamente questões sensíveis para os mexicanos, como o tráfico de drogas e os desaparecimentos forçados.
Em resposta aos estereótipos do filme sobre o México, um grupo de cineastas independentes lançou o curta-metragem 'Johanne Sacreblu', uma homenagem à comédia musical que zomba de 'Emilia Perez' por meio de estereótipos agora franceses, como mímicos, ratos nas ruas e até mesmo Marinette da série animada "Lady Bug".
Foto: YouTube Camila D. Aurora
A criadora de conteúdo Camila Aurora disse que este curta é uma crítica direta aos clichês culturais presentes em 'Emilia Pérez' e que tem como objetivo mostrar como a representação cultural pode cair em simplificações que não refletem a realidade de um país.
Foto: YouTube Camila D. Aurora
Nesse sentido, o cineasta disse, em sua defesa, que o tema central de seu filme não é o tráfico de drogas, mas a transformação pessoal do protagonista. Em entrevista coletiva, informou o MSN, Audiard disse que abordou os problemas do México com prudência e reflexão; No entanto, ele estava aberto a críticas: "Se você acha que estou sendo muito leviano, peço desculpas."
'Emilia Pérez' não teve o sucesso esperado em seu fim de semana de estreia no México. Em seu primeiro dia, 23 de janeiro, arrecadou 1,5 milhão de pesos e atraiu apenas 20.000 espectadores, segundo o Infobae. Assim, entre suas muitas polêmicas, especula-se que o filme será um "fracasso retumbante".
Internautas postaram imagens de assentos vazios nas redes sociais, o que confirmaria a baixa audiência do filme. Além disso, a Agência Federal de Proteção ao Consumidor (Profeco) teve que intervir diante da irritação e insatisfação dos espectadores que solicitaram o reembolso do valor pago à rede de cinemas Cinépolis 30 minutos após o início do filme.
Segundo o jornal Reforma, um dia após o lançamento do filme no país, usuários fizeram reclamações porque queriam usufruir da "Garantia Cinépolis". Pelos motivos expostos, a Profeco solicitou à empresa expositora que esclarecesse os termos e condições de sua garantia com base no que está estipulado na Lei.
A ativista e defensora dos direitos das mulheres e meninas, Artemisa Belmonte, descreveu o filme como "ofensivo e frívolo" por tratar a questão dos desaparecimentos forçados como um musical.
"Não se pode falar do assunto como se fosse algo para fazer um musical... Hollywood não ousa fazer musicais sobre as Torres Gêmeas ou o Holocausto", disse Belmonte sobre o filme que levou Zoe Saldaña a ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante, informou o jornal Milenio.
Enquanto isso, Gascón, que é a primeira mulher t r a n s g ê n e r o a ter esperança de ganhar o Oscar de Melhor Atriz, disse estar satisfeita que o filme seja tão convulso nestes tempos, quando alguns países alertaram sobre medidas prejudiciais à comunidade t r a n s g ê n e r o.
O Reforma informou que a espanhola reclamou que existe uma campanha para desacreditá-la e menosprezar seu trabalho no longa-metragem. "Não entendo como podemos continuar a andar para trás neste mundo, cometendo os mesmos erros que cometemos tantas vezes no passado", disse ela.
E continuou: "Há uma luta de pessoas retrógradas ou pessoas com pouca capacidade mental que são contra a liberdade e o respeito por uma sociedade justa e igualitária, e é assim que temos que lutar."
Neste último sentido, Eduardo Verástegui se expressou em uma publicação no X; pediu à Academia Americana de Cinema para mudar a categoria de Gascón, tratando-a pelo gênero errado.
"Acabei de descobrir que esse senhor está na lista de indicados ao Oscar de Melhor ATRIZ. Há algum tempo ele me chamou de s e m-v e r g o n h a por falar a verdade, então aqui vai mais uma: S e m-v e r g o n h i c e é tirar a indicação de uma mulher usando ideologia e vitimização para ocupar um lugar na lista de INDICADAS que não lhe pertence."
"Não podemos permitir que mulheres, MULHERES, vejam suas conquistas diminuídas, superadas em seus esportes e deslocadas em suas categorias por HOMENS que se sentem no direito de ocupar esses lugares e categorias só porque se percebem como mulheres", disse ele na rede social, segundo o Reforma.