Inuit, o povo do Ártico adaptado a invernos extremos
Os inuit são povos nativos de algumas das regiões mais extensas e sententrionais da Terra, como Groenlândia, Alasca, Canadá e leste da Rússia.
A população inuit é estimada em cerca de 180 mil pessoas, segundo a Britanicca, e está adaptada a temperaturas frias extremas, além de passar meses sem ver a luz do sol.
De novembro a fevereiro, o céu do ártico ganha uma coloração cinza e violeta. Na ausência da luz do sol, a região fica submergida em um crepúsculo constante.
Nunavut é o maior território do Canadá e onde a maior parte da população inuit do país vive em comunidades costeiras remotas, de acordo com a National Geographic.
No mês mais frio do inverno, fevereiro, Nunavut registra temperaturas que variam de -32 a -23ºC. Com o vento, a sensação térmica é ainda mais fria. Mesmo no verão, a temperatura, raramente, fica acima dos 10ºC e a média anual é de apenas -5ºC.
Juntamente com os yupik, do sul do Alasca e do leste da Sibéria, os inuits são povos indígenas que têm uma origem comum no nordeste da Ásia.
No Ocidente, os inuits são comumente chamados de "esquimós", mas eles não se identificam com este nome, que consideram pejorativo. Os europeus começaram a usar o termo, no início do século XVI, para referir-se, negativamente, à ingestão de carne crua por estes povos. Assim, popularizou-se como um estereótipo que denegria os inuit.
A palavra inuit pode ser traduzida como "seres humanos".
O idioma inuit é muito descritivo e detalhado, incluindo 52 palavras para os diferentes tipos de neve.
Com a neve e o gelo, os alimentos vegetais são escassos e eles alimentam-se, basicamente, de animais, como focas, morsas, aves marinhas e peixes. Em pé no gelo ou em caiaques cobertos de pele, os inuit usam arpões para caçar as focas. Há milhares de anos, este animal tem uma importância vital para a comunidade. São uma fonte rica de nutrientes e servem também como vestimenta.
Um estudo feito em 2019, liderado por pesquisadores da Universidade de McGill, em Montreal, analisou os genes de 170 voluntários da região e descobriu que sua composição genética é única, adaptada a uma dieta rica em gordura, mas que predispõe a certos problemas de saúde, como o desenvolvimento de aneurismas.
A nota de imprensa dos pesquisadores também informou que as populações que vivem isoladas frequentemente têm traços genéticos diferenciados, adaptados a ambientes específicos, como é o caso dos inuit de Nunavut.
Publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o estudo mostrou adaptações genéticas exclusivas dos inuit, principalmente nas vias que envolvem o metabolismo de ácidos graxos e a adesão celular, potencialmente, por conta do frio extremo e da dieta pouco variada.
Historicamente, suas roupas eram feitas de peles de animais. A pele mais quente é a da rena, mas também é muito pesada. Já a pele da foca, embora não seja tão quente, é à prova d'água e resiste ao sal do mar, muito usada para fazer sapatos.
No entanto, nos últimos 50 anos, os inuit passaram por grandes e rápidas mudanças políticas, econômicas e culturais, ligadas à globalização e às políticas adotadas ao longo do século XIX, relatou a National Geographic.
A mesma revista explicou que, recentemente, a população inuit foi obrigada a fazer a transição de um povo autônomo e seminômade para viver em assentamentos governamentais.
Isso fez com que perdessem suas identidades em favor de um aculturamento ocidental. Tal feito foi considerado pelo governo canadense como uma v i o l a ç ã o de seus direitos, autonomia e dignidade.
Por conta disso, em 1977, foi fundado o Conselho Circumpolar Inuit (ICC), uma organização não governamental que busca fortalecer a unidade entre os inuits, promover seus direitos e interesses internacionalmente, além de garantir o crescimento da cultura e das sociedades desdes povos.
Nos dias atuais, os inuits vivem entre suas antigas tradições sociais e culturais e as recentes mudanças impostas por quem vem de fora.
Há ainda outro fator que ameaça a estabilidade desta população: a mudança climática.
Com o rápido aumento da temperatura mundial, o degelo no Ártico acentua-se a uma velocidade nunca antes vista. Isso afeta, diretamente, todos os seres vivos da região, incluindo os humanos.
Um estudo publicado em junho de 2023, na revista Nature Communications, descobriu que o gelo marinho do Ártico pode desaparecer completamente, durante o verão, já na década de 2030, relatou a CNN.
A fotógrafa Acacia Johnson, que esteve no Ártico, disse à National Geographic: "Tudo gira em torno do gelo marinho. Essencialmente, ele forma uma superestrada entre regiões muito distantes e é um facilitador da vida. O aquecimento do clima e a instabilidade do gelo prejudicarão drasticamente as pessoas que vivem ali."