Casas-caixão de Hong Kong: o que são e quem mora nelas?
Hong Kong é uma Região Administrativa Especial da China. O território não conseguiu assumir a onda de migrantes que chegam em busca de trabalho e daí surgiram as casas-caixão: quartos minúsculos, resultado da subdivisão ilegal de moradias.
Segundo uma pesquisa publicada em meios de comunicação como a National Geographic, cerca de 200 mil pessoas residentes de Hong Kong se viram obrigados a morar nestes lugares.
A cidade dos arranha-céus, das construções futuristas e das inovações tecnológicas passa uma imagem deslumbrante para o mundo. Entretanto, para os moradores das casas-caixão, a prosperidade de Hong Kong está fora do seu alcance.
O aumento da demanda de moradias tem provocado que Hong Kong seja um dos lugares com o solo residencial mais caro do mundo.
As polêmicas casas-caixão de Hong Kong são conhecidas no mundo. Este tipo de moradia é a única alternativa encontrada para os que não podem pagar os altos preços dos aluguéis de lugares mais decentes.
Os cubículos são separados uns dos outros por placas de alumínio ou de madeira e podem ter entre 1,5 e 9 metros quadrados, obrigando as pessoas a subsistirem com o imprescindível.
Cerca de 40 mil crianças moram com suas famílias em casas-caixão (ou casas-jaula). Alugar este tipo de habitação com qualidades ínfimas pode ser inclusive caro para alguns. O valor de uma delas é de aproximadamente 200 a 500 dólares de Hong Kong (de 24 a 50 dólares estadunidenses).
O custo para morar nestes lugares pode representar mais da metade do salário dos seus inquilinos.
Em Hong Kong, estima-se que 20% da população de 7 milhões de habitantes vive na pobreza e muitos esperam um lugar para morar subsidiado pelo governo.
Os moradores destes minúsculos quartos chegam a compartilhar o vaso sanitário com até 20 pessoas.
Apesar da gravidade de se viver nestas condições, as casas-caixão são comuns em Hong Kong.
Muitos dos compartimentos são tão estreitos que seus inquilinos nem sequer podem esticar as pernas completamente, quando se deitam. Desta forma, passam a maior parte do tempo fora do cubículo, em áreas comuns.
O lado escuro de Hong Kong é fruto de uma desigualdade social alarmante. Enquanto as casas-caixão se proliferam, em 2017, dois apartamentos de luxo foram vendidos em Hong Kong por quase 150 milhões de dólares, um deles foi o mais caro da Ásia.
Em Hong Kong existem pessoas que ganham o equivalente a 5 dólares por hora, um salário insuficiente para pagar os custos de vida. Mais da metade da população tem uma renda inferior à obrigatória para pagar impostos.
Aposentados, pedreiros, drogados e famílias de trabalhadores de baixa renda fazem parte do perfil das pessoas que moram nestes lugares.
Em um espaço de 46 metros quadrados, podem chegar a morar até 30 pessoas, cada uma em um quarto que não supera os 60cm de largura e 170 cm de comprimento.
Morar em um ambiente com estas condições pode gerar problemas de saúde físicos e psicológicos. A falta de espaço acarreta fortes odores, falta de luz, proliferação de bactérias e inúmeros problemas de higiene.
Estes minúsculos quartos surgiram nos anos 50 e eram ocupados principalmente por imigrantes chineses enviados por seus chefes para morarem lá.
Quando surgiram, os compartimentos eram divididos com grades de arame, como se fossem gaiolas empilhadas uma em cima da outra.
Hong Kong tem atualmente a taxa de pobreza mais alta dos últimos seis anos: um de cada sete habitantes é pobre, segundo estudos.
Em uma reportagem publicada pelo site eldiario.es, foi estimado que o tempo médio de espera para se ter acesso a uma moradia em Hong Kong varia de 8 meses a 4 anos.
O governo do território chinês proporciona ajudas para que as famílias paguem os aluguéis, mas as medidas ainda são insuficientes e o problema da falta de uma moradia digna continua aumentando.
Muitas ONGs, como a Society for Community Organization (SoCO), lutam por iniciativas legislativas que possam melhorar o nível de vida desta parte da população de Hong Kong. Outras instituições e, inclusive, o governo, lançam campanhas de limpeza para desinfectar estas casas e diminuir os problemas de salubridade.
Famílias com filhos pequenos vivem em um espaço diminuto onde realizam, com dificuldade, suas atividades diárias.
Alguns moradores destes quartos têm dispositivos eletrônicos e precisam ser criativos para conseguir utilizá-los no espaço disponível.
Nestes cubículos, quase não há espaço para o próprio morador.
Os habitantes destes espaços se veem obrigados a dividir com estranhos os momentos mais íntimos do cotidiano.
Imagem: Joel Fulgencio / Unsplash
A vida em um lugar tão precário, com uma infraestrutura sem nenhuma segurança, pode ser quase impossível.