Hollywood acabou com as cenas de sexo nos filmes?
De acordo com a vice-presidente do site especializado em roteiros, 'The Black List', Kate Hagen, de um total de 18.678 filmes lançados em 2022, apenas 103 foram etiquetados no IMDB como tendo uma cena de s e x o. Isso representa menos de 1% de todos os filmes e é o ponto mais baixo desde a década de 1960!
'Magic Mike - A Última Dança' (um romance entre Channing Tatum e Salma Hayek) e a comédia romântica g a y 'Bros' foram os filmes com mais cenas de amor e s e x o de 2022. Ambos não tiveram tanto sucesso nas bilheterias quanto se esperava.
Em um artigo para a revista The Atlantic, a escritora Sophie Gilbert argumenta que, mesmo em filmes românticos, muitas vezes, falta qualquer química entre os personagens. "Às vezes, a coisa mais s e x y que duas pessoas podem fazer na tela é simplesmente olhar uma para a outra - olhar, por um longo período de tempo, até que o ar ao redor delas pareça faiscar", disse.
Foto: Casablanca (1942)
Ela usou o recente filme da Netflix estrelado por Jonah Hill e Julia Louis Dreyfus como um exemplo primordial. O casal na comédia romântica é mostrado apenas olhando para sapatos, pinturas e telefones juntos, mas, raramente, um para o outro. Os espectadores presumem que eles têm relações apenas através de uma cena em que os pés deles, com meias, se tocam.
Até mesmo o breve beijo no final foi criado em pós-produção com imagens geradas por computador (CGI). Na vida real, os atores estavam distantes um do outro, revelou o ator Andrew Schulz, em um podcast.
Sim, sabemos que cenas de s e x o ainda são comuns em séries da HBO, como, por exemplo, 'The White Lotus', 'Euphoria' e 'Succession'. No entanto, Gilbert ressalta que todas elas retratam experiências corrompidas, disfuncionais ou dissociadas - não há relações românticas saudáveis para serem vistas.
Embora os corpos nunca tenham sido tão "sarados", vulneráveis e autênticos, o amor romântico entre adultos não é uma trama importante em muitos filmes de grande orçamento, nos dias de hoje. Até os próprios corpos refletem disciplina e negação, o oposto de prazer ou impulsos hedonistas.
Inclusive, todos os filmes da Marvel, excluindo 'Deadpool', têm classificação 13+ para atingir o público mais amplo possível. E os adultos realmente parecem adorá-los também. É por isso que os estúdios continuam investindo seus orçamentos em filmes voltados para a família.
Nada se compara a 'Titanic' de 1997: um épico romance de grande sucesso, com cenas icônicas de s e x o e nudez. Na época, foi o filme mais caro já feito. Além de se tornar o primeiro filme a arrecadar US$ 1 bilhão (em escala americana), em todo o mundo, ganhou 11 prêmios Oscar.
Imagine ir trabalhar e ter que simular intimidade com seus colegas. Muitos atores e atrizes já expressaram o quão desconfortáveis essas cenas podem ser. Kristen Stewart, por exemplo, disse à Harper's Bazar que filmar uma das cenas de s e x o em 'Crepúsculo' foi grotescamente desconfortável.
No entanto, isso certamente não é universal. Emilia Clarke, interpretando Khaleesi em 'Game of Thrones', agradeceu aos produtores por lhe darem uma cena de s e x o na quarta temporada. Viola Davis disse que foi assustador, mas empoderador para uma mulher negra de sua idade estar em uma cena de s e x o. E Hugh Grant, talvez de forma problemática, disse que elas são bastante excitantes.
Com o #MeToo e outros movimentos feministas, as atrizes têm menos probabilidade de serem colocadas em papéis comprometedores. Sharon Stone, por exemplo, disse que não consentiu com a nudez em 'Instinto Selvagem' (1992) e um filme como 'Proposta Indecente' (1993), onde Robert Redford poderia pagar um milhão de dólares por Demi Moore, talvez não fosse tão aceito nos dias de hoje.
Indiscutivelmente, o maior impacto do movimento #MeToo nas cenas de s e x o foi o novo papel do "coordenador de intimidade". O uso desses profissionais para guiar cenas e r ó t i c a s tornou-se um novo padrão em Hollywood. Muitos na indústria aplaudem essa mudança com relação à dependência anterior da espontaneidade e seus resultados envolventes.
É verdade que muitos filmes lançados em 2022 foram filmados quando a contaminação pela COVID-19 ainda era uma preocupação importante. Talvez, por esse motivo, Hollywood tenha optado por filmes que exigiam menos contato físico, no ano passado. Aquele beijo criado em CGI? Provavelmente não seria necessário se não fosse pela pandemia.
Isso é o que o ator John Cameron Mitchell recentemente disse ao The Guardian: "Eu acho que a cultura digital meio que impediu as pessoas de interagirem, e você tem muitos jovens tendo menos e menos relações s e x u a i s nos dias de hoje". Ele acrescentou que o s e x o, agora, está basicamente confinado à p o r n o g r a f i a. "De certa forma, a p o r n o g r a f i a venceu."
Um estudo recente, que analisou a atividade s e x u a l nos Estados Unidos, descobriu que a quantidade de s e x o diminuiu, significativamente, de 2009 a 2018, em todos os grupos etários. De fato, 28% dos adultos relataram nenhuma atividade s e x u a l em parceria, em 2018, em comparação com 24% em 2009. Entre os jovens de 14 a 17 anos, 89% relataram nenhuma atividade no último ano em 2018, em comparação com 79% em 2009.
Foto: Robin Worral / Unsplash
Uma grande pesquisa realizada no Reino Unido também constatou que a frequência s e x u a l tem diminuído. Em 1991, os entrevistados relataram que faziam s e x o em média cinco vezes por mês. Em 2001, esse número caiu para quatro vezes. Em 2012, a média era de três vezes por mês.