Lauryn Hill: por trás da fama, uma chuva de problemas
Oito vezes vencedora do Grammy, Lauryn Hill é uma figura emblemática na história da música hip hop e R&B. Este ícone urbano conseguiu mudar o papel da mulher na indústria musical, graças ao seu lendário álbum 'The Miseducation of Lauryn Hill' (1998). Sua vida tem sido marcada por sucesso, instabilidade e controvérsias decorrentes de uma fama mal direcionada.
Nascida em East Orange (Nova Jersey, Estados Unidos) em 26 de maio de 1975, Lauryn Hill envolveu-se no mundo da atuação desde muito jovem, com participações em séries como 'As the World Turns' e no filme 'Mudança de Hábito 2' ('Do C a b a r é para o Convento 2', em Portugal - 1993).
Hill encontrou sua verdadeira paixão na música, unindo-se ao grupo de rap e R&B The Fugees, ao lado de Wyclef Jean e Pras Michel, quando ainda era estudante.
Ao longo de sua trajetória (1989-1997), The Fugees lançou dois álbuns de estúdio, 'Blunted On Reality' (1994) e 'The Score' (1996). Este último ganhou dois prêmios Grammy e foi certificado multiplatina.
No entanto, após o êxito alcançado com 'The Score', em 1997, The Fugees acabou por se dissolver e cada um dos seus membros iniciou o seu próprio caminho.
Conforme relatado por Wyclef Jean em sua autobiografia 'Purpose', a verdadeira razão para essa dissolução foi a relação problemática que ele mantinha com Hill e o fato de ela ter mentido sobre a paternidade de seu primeiro filho.
Antes de iniciar sua nova jornada profissional solo, em 1996, Lauryn Hill conheceu Rohan Marley, jogador profissional de futebol americano e filho do lendário artista jamaicano Bob Marley. Os dois iniciaram um relacionamento que durou 15 anos.
A relação chegou ao fim em 2011, com a separação definitiva do casal, deixando como legado cinco filhos: Zion David (1997), Selah Louise (1998), Joshua Omaru (2001), John Nesta (2002) e Sarah (2008).
Mas muito antes de tudo isso, voltando a 1997, o sucesso e o reconhecimento mundial bateram à porta de Lauryn Hill, com seu álbum de estreia solo: 'The Miseducation of Lauryn Hill', lançado em 25 de agosto de 1998.
Foi um álbum que quebrou todos os moldes e marcou um antes e um depois nos gêneros de hip hop e R&B. Um trabalho musical que contou com colaborações marcantes, como a do guitarrista Carlos Santana, do artista de blues D'Angelo e do pianista John Legend.
'The Miseducation of Lauryn Hill' foi indicado ao Grammy em 11 categorias e ganhou 5 desses prêmios, incluindo o de Álbum do Ano.
Além disso, este álbum icônico vendeu mais de 8 milhões de cópias em todo o mundo e gerou uma receita de nada menos que 25 milhões de euros.
No entanto, o imenso sucesso de sua estreia não se traduziu em uma longa carreira repleta de mais álbuns de sucesso, como muitas outras estrelas da música.
Hill não soube lidar com a fama. Dinheiro, festas, prêmios, críticas, rumores sobre sua vida profissional e privada... Entre tudo isso, a pressão do sucesso pesou sobre ela, e sua vida mudou para sempre.
Em sua carreira solo, Lauryn Hill lançou apenas mais um álbum de estúdio, 'MTV Unplugged No. 2.0' (2002), gravado em 21 de julho de 2001 nos Estúdios da MTV em Times Square, Nova York.
Naquele álbum, ela fez uma mudança radical em tudo, tanto em sua própria imagem pessoal quanto em sua abordagem musical. Interpretou suas canções apenas com sua voz e um violão acústico, e enfatizando mais a mensagem dentro das letras de suas músicas.
Naquela época, muitos meios de comunicação relataram que Hill tinha se aprofundado em suas crenças religiosas, estudando a Bíblia com o Irmão Anthony. Ele era um guia espiritual heterodoxo e anticatólico que, para muitos, só conseguiu lavar o cérebro da artista para que ela fizesse o que ele queria.
No ano de 2002, Hill raramente saía de casa e nem mesmo assistia televisão. Ela começou a criticar o silêncio diante dos casos de corrupção e abuso s e x u a l que envolviam a igreja católica.
Desde então, Hill se afastou da música e suas aparições públicas têm sido raras. Dedicou-se a explorar novas expressões artísticas, como dramaturgia, escrita de poesia e roteiros, além de design de moda. Ela tem dedicado mais tempo à sua família e a si mesma.
E há muitos que pensam que sua despedida da carreira musical foi uma forma de protesto contra a indústria, como ela mesma comentou em uma entrevista à revista Rolling Stone em 2015. Na publicação, Hill disse que os artistas, frequentemente, são explorados e maltratados por gravadoras e outras figuras do ramo.
Em sua trajetória posterior, não podemos esquecer seu breve retorno ao The Fugees. A banda fez um show no Brooklyn (Nova York) em 18 de setembro de 2004; apareceu no BET 2005 Music Awards; lançou um novo single, 'Take It Easy'; e, em 2006, apresentou-se, novamente, em Hollywood, além de lançar dois novos singles: 'Foxy' e 'Wannabe'.
O pior momento de sua vida chegaria em 6 de maio de 2013, quando foi condenada por um tribunal de Nova Jersey a três meses de prisão, seguidos de três meses de prisão domiciliar e um ano de liberdade condicional. O motivo? Evasão fiscal. Ela também recebeu uma multa de 60 mil dólares.
A cantora admitiu que não apresentou as declarações de impostos correspondentes aos anos de 2005, 2006 e 2007, período durante o qual recebeu 1,8 milhão de dólares.
"Eu precisava ser capaz de ganhar dinheiro para poder pagar meus impostos sem comprometer a saúde e o bem-estar dos meus filhos, mas não me permitiram fazer isso", afirmou a cantora, segundo o TMZ.
A cantora também criticou naquela época o clima de hostilidade, manipulação, preconceito racial, s e x i s m o e discriminação na cultura pop que a levou a se afastar da música e, eventualmente, a terminar com sua carreira.
No mesmo dia em que foi libertada da prisão, Hill publicou em sua conta no Twitter uma nova música chamada 'Consumerism', uma faixa que abordava questões como ceticismo e narcisismo.
Após esse episódio, a cantora tentou retornar, de forma esporádica, ao mundo da música, lançando algumas músicas avulsas e tentando a sorte com algumas turnês que acabaram com concertos cancelados ou atrasos que irritaram seus fãs.
En 2018, ela iniciou uma turnê de aniversário pelos 20 anos de 'The Miseducation Of Lauryn Hill', o que a colocou de volta em destaque. Entretanto, foi acusada de plágio pelo pianista, compositor e produtor Robert Glasper, que também criticou sua forma de tratar os músicos com quem trabalhava.
Glasper fez essas declarações no programa 'The Madd Hatta Morning Show', onde disse: "Ela recebeu o crédito por fazer aquele álbum clássico, quando na verdade, aquelas músicas foram escritas por outras pessoas. Ela gosta de receber o crédito para parecer ser uma espécie de gênio".
A própria Lauryn Hill respondeu a Glasper através de um post no Twitter: "Em retrospectiva, teria lidado de maneira diferente para evitar qualquer confusão. E tenho tentado fazer de maneira diferente desde então... A questão é que eu incluí a todos na criação, mas no fundo estas são minhas músicas".
Antes disso, ela já havia sido criticada pelo grupo New Ark, que solicitou ser incluído nos créditos de 13 das 14 músicas de seu álbum, mas isso não ocorreu. A disputa foi levada aos tribunais e chegou a um acordo em 2001.
Em 2023, Hill voltou a estar nas manchetes, desta vez devido à sua turnê de comemoração dos 25 anos do lançamento de 'The Miseducation of Lauryn Hill'.
A turnê inclui ainda um reencontro muito especial com The Fugees, com a presença de Pras Michel e Wyclef Jean se juntando a ela nos palcos.