Quem foi o verdadeiro Homem da Máscara de Ferro?
O Homem da Máscara de Ferro foi uma das figuras mais famosas da história da França. Preso durante o reinado de Luís XIV, no final do século XVII, teve que manter o rosto escondido, para que sua identidade nunca fosse revelada.
O prisioneiro tinha que usar uma máscara, com juntas de metal, e não podia tirá-la nem para comer. Este acessório aumentou o mistério em torno de sua história.
Além disso, o homem foi proibido de pronunciar seu nome, enigma que perdura há mais de três séculos. Mesmo depois de sua morte, o segredo não foi revelado.
O homem com rosto e nome desconhecidos foi preso e encarcerado na fortaleza de Pignerol, no Piemonte (França), em 1679. Ele ficou sob a rigorosa vigilância do Monsieur de Saint-Mars.
O caso começou a ser comentado quando o prisioneiro foi transferido, em 1687, para a cidade de Sainte-Marguerite, em uma pequena ilha na costa de Cannes. Lá, ele fez sua primeira aparição pública.
Em 1698, o Máscara de Ferro foi transferido novamente, desta vez para a Bastilha, famosa prisão simbólica do Antigo Regime na França, tomada pelos revolucionários, em 14 de julho de 1789.
Mas como ele pôde manter o segredo de sua identidade durante toda a sua vida? Às custas de muito isolamento. O prisioneiro ficou privado de qualquer contato com o mundo exterior. Além disso, seus cuidadores receberam uma proibição formal de falar sobre o assunto.
Mas o caso não poderia permanecer oculto para sempre. Ao longo dos anos, a misteriosa história do homem da máscara de ferro tornou-se chamativa na corte do rei.
Após longos anos na prisão, o prisioneiro finalmente morreu, em 1703. Mesmo depois, sua verdadeira história não foi publicamente revelada.
De fato, aqueles que ordenaram sua prisão queriam que o mistério permanecesse intacto para sempre. O homem foi enterrado no cemitério de Saint-Paul, em Paris, enquanto seus pertences pessoais foram queimados.
Dizem, inclusive, que as paredes do quarto onde passou tanto tempo foram raspadas e pintadas novamente, para cobrir qualquer rastro.
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A famosa história poderia ter caído no esquecimento, mas foi popularizada por Voltaire, no século XVIII. O escritor iluminista menciona a lenda da máscara de ferro, em sua famosa obra, “O Século de Luís XIV”, publicada, pela primeira vez, em 1751.
Além de fazer clara referência ao prisioneiro da corte de Luís XIV, usa o personagem como símbolo do regime absolutista. Uma das passagens do livro: “Tínhamos ordens de matá-lo, caso fosse descoberta sua identidade”.
A crítica de Voltaire sugere que o prisioneiro é uma vítima da arbitrariedade real francesa. A descrição minuciosa que ele faz impressiona o leitor e reaviva o interesse por um caso que nunca foi elucidado.
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Na obra "O Visconde de Bragelonne" (1848-1850), continuação de "Os Três Mosqueteiros", de Alexandre Dumas, também é citada a lenda da Máscara de Ferro. A hipótese do autor diz que o prisioneiro era um irmão oculto do rei. Aliás, esta ideia, que tornou-se popular, foi posteriormente retratada no cinema.
Esta curiosa história foi evocada em outras obras literárias, em séculos mais recentes, como no poema “La Prison”, de Alfred de Vigny (1823), e no romance “Le Secret du Masque de Fer”, de Marcel Pagnol (1973).
No cinema, a história ganhou mais de uma versão. Em 1962, veio "A Máscara de Ferro", com Jean Marais, e, em 1998, foi produzido o famoso "O Homem da Máscara de Ferro", com Leonardo DiCaprio, John Malkovich e Gérard Depardieu.
A maioria das adaptações da icônica lenda foram inspiradas nos romances do escritor e dramaturgo francês, Alexandre Dumas (1802 - 1870).
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O fato é que várias hipóteses já foram apresentadas sobre a identidade do máscara de ferro, mas nenhuma delas jamais foi reconhecida como verdadeira.
Segundo a teoria apresentada por Alexandre Dumas, que continua a ser uma das mais populares, o homem seria um irmão (gêmeo ou mais velho) do rei Luís XIV, cuja existência teve de ser ocultada para evitar qualquer problema à corte. Mas como os nascimentos reais eram públicos, na época, esta hipótese é bastante improvável.
Outro nome frequentemente apresentado é o de Nicolas Fouquet, ex-ministro de Luís XIV. Preso na década de 1670, deveria ter sido libertado em 1680, coincidindo com a data de sua morte. Muitos especulam que, na verdade, a suposta morte serviu para encobrir sua prisão perpétua.
Uma última hipótese aponta para um simples funcionário da corte, que teria participado de negociações secretas junto a Luís XIV e ao rei da Inglaterra. Segundo alegam, o homem passou a ter conhecimento sobre assuntos confidenciais, o que o teria levado à prisão.
Outras suposições, um pouco mais fantasiosas, levaram algumas pessoas a desconfiar de três pessoas: Henri de Guise, cujas façanhas militares ofuscaram o rei, que teria mandado prendê-lo; Molière, dramaturgo francês, que teria sido preso pelos jesuítas, por sua controversa obra, "Tartufo", em que critira fortemente o clero; e, por último, um suposto amante da rainha.
As teorias floresceram por três séculos, mas nenhuma delas foi formalmente comprovada. O mistério da Máscara de Ferro permanece intacto, 320 anos após sua morte.
Em 2015, o inventário dos pertences e papéis do carcereiro do Máscara de Ferro foi redescoberto. O Arquivo Nacional os publicou online, sem grandes avanços quanto à identidade do preso.
Todas as pistas capazes de revelar sua identidade foram cuidadosamente destruídas. Assim, dificilmente este enigma será resolvido.