A comovente trajetória de Silvero Pereira
O personagem Zaquieu, da novela 'Pantanal', já deu muitas lições de moral aos preconceituosos. Mostrou coragem e exige ser respeitado por todos ao seu redor. Mas esta luta também está presente na vida de Silvero Pereira, seu intérprete.
Silvero tem uma história de sucesso conquistada à custa de muito esforço e talento. No programa 'Altas Horas', ele disse: “Sou um garoto que vem de uma família pobre, de uma mãe analfabeta, lavadeira, e de um pai pedreiro".
Nascido no dia 20 de junho de 1982, em Mombaça, (Ceará), viveu uma infância muito humilde. Em entrevista ao programa 'Provoca', ele relembrou: "Fui violentado socialmente desde criança quando não era convidado para os aniversários, não tinha roupa para vestir, não tinha presente para levar”.
Não só a pobreza marcou o passado do ator, que revelou também ter sofrido abusos: "Quando eu tinha sete anos fui levado a um matagal por uma pessoa que tinha muito mais idade do que eu e ela fez coisas comigo que eu nem sabia o que estava acontecendo."
"Eu só fui entender o que tinha acontecido, uns seis, sete anos depois. Foi quando eu estava lendo sobre o assunto e identifiquei que aquilo já tinha acontecido comigo", completou.
No seu perfil do Instagram, o ator publicou esta foto com a seguinte legenda: “Essa foi a primeira casinha que morei só, não tinha reboco nem água encanada. Nesse dia, ganhei essa geladeira de presente de uma amiga querida. Fui muito feliz nessa casinha! Fiz muitos amigos e tinha um trabalho que amava: dava aulas de teatro para crianças e adolescentes. Foi um tempo muito bonito na minha vida!”
Na verdade, Silvero Pereira sempre quis ser artista. Ele participou do programa 'Que história é essa, Porchat?' e garantiu um dos episódios mais divertidos da temporada, ao contar como criou, ainda criança, o seu próprio canal fictício, o “Silver Show”.
"Tudo acontecia em casa, desde a apresentação de telejornais até o talk-show que era 'gravado' no banheiro, religiosamente, às 17h", explicou na ocasião. Está claro que, imaginação nunca lhe faltou!
Seu primeiro papel na televisão foi na novela 'A Força do Querer' (2017). Conquistou o público, dando vida ao motorista ‘Nonato’, que na verdade era a artista ‘Elis Miranda’.
O personagem trouxe à tona temas importantes para a causa LGBTQI+ como: violência e aceitação.
Por este trabalho, foi indicado ao prêmio Melhores do Ano, da TV Globo, na categoria Ator Revelação. Perdeu para Jonathan Azevedo.
No mesmo ano (2017), apareceu no curta-metragem ‘No Fim de Tudo’, onde interpretou Jozy Proença Meneghel. O filme tem como tema a relação familiar entre filhos LGBTQI+ e seus pais.
Mas foi o filme 'Bacurau', dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, que marcou um antes e um depois na carreira de Silvero Pereira. Nele, compartilhou elenco com grandes estrelas como Sônia Braga e o alemão Udo Kier.
'Bacurau' rendeu-lhe vários prêmios. Entre eles o de Melhor Ator, concedido pela Academia Brasileira de Cinema, e o Prêmio Guarani do Cinema Brasileiro, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante.
Também arrebatou o Prêmio Men of the Year Brasil na categoria Homem do Ano, em 2019. Na cerimônia, usou um vestido, cabelos longos e fez um discurso sobre respeito e aceitação.“O meu lado feminino empodera o meu lado masculino.”
O ator esteve presente no Festival de Cannes, na França, onde 'Bacurau' foi apresentado e muito elogiado. Sobre a escolha do look, disse: “Estar assim não nega o homem que sou, pelo contrário.”
Além de brilhar como ator no cinema e na TV, Silvero Pereira também tem talento para dançar. Participou do quadro 'Show dos Famosos', no Domingão do Faustão, e chegou à batalha final. Representou grandes nomes da música como Cher, Gal Costa, Freddie Mercury e Ney Matogrosso.
Com a popularidade em alta e mostrando, cada vez mais, seu grande potencial artístico, foi convidado pela Netflix para uma participação especial no reality ‘Nasce uma Rainha’. Na atração, colaborou na criação da personagem Carlão Sensação.
Com uma imensa naturalidade, Silvero Pereira sobe ao palco e ficar cara a cara com o público. Há 10 anos, participa do coletivo artístico ‘As Travestidas’, que encena a peça ‘O Cabaré das Travestidas’.
Já o monólogo 'BR Trans' estreou em 2015 e ganhou reconhecimentos importantes como o Prêmio Aplauso Brasil de Teatro na categoria de Melhor Ator e Espetáculo. Foi criado a partir de fragmentos de histórias reais.
Com o sucesso da peça, Silvero lançou um livro com o mesmo tema e incluiu detalhes das histórias e da produção da peça.
Em época de pandemia, lançou um experimento cênico virtual inédito. ‘Bix* Viad* Frango’, um espetáculo autobiográfico, e bem humorado, que resgata vivências relacionada à sexualidade e gênero. Definitivamente, não há limites para Silvero Pereira. Sua capacidade de reinvenção é realmente inspiradora.
A vida do costureiro, estilista e político Clodovil Hernandes será contada em uma série e o brilhante Silvero Pereira foi escolhido para dar vida ao protagonista.
A novidade foi confirmada pelo próprio ator, no seu perfil do Instagram. A série será uma adaptação da biografia 'Tons de Clô', escrito por Carlos Minuano. A produtora Formata adquiriu os direitos autorais da obra e também pretende fazer um documentário sobre Clodovil.
A série terá direção de Rodrigo Cesar e roteiro de Fernando Ceylão. Interpretar Clodovil Hernandes será mais um desafio na carreira de Silvero Pereira, que já é recheada de personagens marcantes.
Ele emocionou a plateia e os telespectadores, recentemente, no programa ‘Altas Horas’, que tinha como tema ‘Atores e Atrizes que Cantam’. O ator mostrou seu talento ao interpretar a canção ‘Sujeito de Sorte’, de Belchior.
Antes de sua apresentação, e, enquanto segurava as lágrimas, Silvero falou um pouco sobre a escolha da canção: “Escolhi essa música porque me considero um sujeito de sorte.”
“Diversidade ambulante e ator colossal”. Assim foi como o apresentador Marcelo Tas definiu Silvero Pereira, durante recente entrevista concedida pelo ator ao programa ‘Provoca’, da TV Cultura. E acertou em cheio.