Vida e morte trágica de Marie Fredriksson (Roxette)
"Obrigado por p i n t a r minhas canções em branco e preto com as cores mais bonitas". Esta foi a mensagem que Per Gessle dedicou a Marie Fredriksson, sua companheira de jornada do grupo de pop Roxette, quando ela faleceu, em 9 de dezembro de 2019.
O mundo ficou de luto quando Marie Fredriksson partiu. Poucos sabiam que, durante quase todo o século XXI, a cantora enfrentou um suplício de dores, analgésicos, operações e luta para continuar cantando. E se a morte de Marie Fredriksson foi trágica, sua vida não foi diferente.
A primeira coisa que deve ser esclarecida é que a cantora chamava-se Gun-Marie Fredriksson. A banda, sim, era Roxette e formada por ela por Per Gessle.
Marie Fredriksson nasceu em Össjö, na Suécia, em uma família humilde e sendo a caçula de cinco irmãos, como ela mesma contou em sua biografia: 'Listen to my Heart'.
Incentivada por seu pai, ela aprendeu a cantar e tocar piano, além de compor suas próprias canções. Mas Marie Fredriksson logo aprenderia que sua vida não seria fácil, e isso aconteceu com o falecimento de Anna Lisa, uma de suas irmãs, em um acidente de trânsito.
No final dos anos 1970, Marie Fredriksson formou Strul, sua primeira banda e, um pouco mais tarde, MaMas Barn. No estúdio onde ensaiavam, a artista conheceu Per Gessle, que conseguiu para ela uma audição com o produtor de Gyllene Tider, sua banda. Um único encontro foi suficiente para que a EMI lhe oferecesse um contrato.
Em apenas cinco anos, Marie Fredriksson e Per Gessle já eram considerados os melhores artistas musicais da Suécia, competindo diretamente com o ABBA. Faltava dar o grande salto internacional, e a gravadora lhes indicou o caminho em 1986: formariam uma dupla e se chamariam Roxette.
Após o primeiro álbum, 'Pearls Of Passion' (1986), que passou despercebido, chegou 'Look Sharp!' (1988), que incluía faixas como 'Dressed for Success', 'Listen to Your Heart', 'Dangerous', e principalmente, 'The Look', o sucesso que lhes abriu as portas aos Estados Unidos.
'The Look' alcançou o número 1 nos EUA em abril de 1989 e em outros 30 países. No total, venderam 30 milhões de cópias do single. Em apenas 3 anos, já haviam feito história, mas ainda tinham outra para escrever.
Além do mais, nesse mesmo ano, a Touchstone Pictures pediu-lhes uma música para incluir na trilha sonora de 'Pretty Woman'. Como estavam em turnê, Per Gessle enviou-lhes uma canção que tinha preparado para o Natal: 'It Must Have Been Love'. Sua música mais divulgada, uma história de cinema e eternamente associada à cena do beijo final entre Richard Gere e Julia Roberts. Foi número 1 em 20 países.
Roxette estava arrasando e Marie Fredriksson era uma verdadeira influenciadora da época, já que seu cabelo curto e tingido de loiro era conhecido como o 'Penteado Roxette' em todo o mundo. A dupla estava no auge e estava prestes a dominar boa parte dos anos 1990.
Ao longo da década, a dupla lançou quatro álbuns de sucesso: 'Joyride' (1991), 'Tourism' (1992), 'Crash! Boom! Bang!' (1994) e 'Have a Nice Day' (1999). Além disso, foi durante essa década que Marie Fredriksson se casou.
Foi em 21 de maio de 1994, na Suécia, com o músico Mikael Bolyos, com quem teve dois filhos: Inez Josefin e Oscar Mikael. Uma vida pessoal que intercalava com viagens, turnês, promoções e gravações.
Mas os anos 1990 se foram e o século XXI começou, marcando o início dos desafios da cantora. Por ironia do destino, em 11 de setembro de 2002, após um episódio de epilepsia, Marie Fredriksson caiu e fraturou o crânio.
No hospital, a artista foi diagnosticada com um tumor cerebral e lhe deram um ano de vida. Marie Fredriksson tinha 44 anos na época. Ela estava determinada a não desistir facilmente.
O tratamento de quimioterapia deixou-a quase sem visão no olho e ouvido direitos, ela perdeu a memória de curto prazo e teve que aprender novamente a falar, ler e caminhar. Mas ela nunca duvidou e, a partir de 2004, trabalhou diariamente para superar esses desafios.
Segundo relata em suas memórias, a dor era insuportável, mas a música era o que mais a reconfortava. Apesar de esquecer a letra de suas próprias músicas, em 2011 ela retornou aos palcos, em uma apresentação tão emotiva quanto memorável.
Dois anos depois, ela lançaria 'Nu!', seu primeiro álbum solo. E já em 2016, para celebrar o 30º aniversário de Roxette, a dupla anunciou uma turnê mundial que teve que ser cancelada devido ao estado de saúde da cantora.
'Roxette' conseguiu lançar 'Good Karma' (2016), seu décimo e último álbum, com o qual alcançaram a incrível marca de 75 milhões de álbuns vendidos.
Toda uma vida de sucessos e também de tragédias foi registrada pela jornalista Helena von Zweigbergk, que acompanhou Marie Fredriksson durante dois anos para escrever suas memórias, lançadas em 2019, o ano em que a artista faleceu.
Foi em 9 de dezembro de 2019 que, aos 61 anos, a voz de Marie Fredriksson calou-se para sempre. Seu amigo Per Gessle dedicou-lhe a bela balada 'Around the Corner', e o mundo chorou por uma artista que dedicou seu coração e saúde a um legado musical que já é eterno.